A noite sem dormir
Essa luta incessante para conseguir colocar certos projetos em prática me consumiu a noite inteira. Não por uma pessoa que merece apenas ser escarnecida, mas por um amigo, que não quer meu mal, não quer ser empecilho em minha vida. Apenas pretende defender seus ideais e motivos para treinar.
Isso ocorreu comigo em hora inapropriada, pois agora, a força que já vinha falhando, me falta por completo.
Eu creio que quando temos certos contra-tempos, devemos buscar a “introspecção”. Buscar olhar para dentro procurando entender por qual embasamento seguimos até chegar nos atos que estamos tentando realizar.
Minha visão de evolução no Parkour em 3 fases
E para entender melhor isso, vou colocar em questão o parkour dividido em 3 fases. O “parkour moda”, o “parkour bruto” e o “parkour espírito”.
Parkour! Vamos pule! Vamos! É divertido! Se você for eu vou!
É nesse parkour que todos começam não há como escapar disso, seja uma fase longa eu curta, seja mais ou menos intensa, todos passam por esse momento. Todos podem ver movimentos rápidos e plásticos, e aquilo realmente é belo. Salta aos olhos ver tanto controle do próprio corpo. Mas esse controle se reflete em conhecimento? Esse controle se reflete em evolução mental? Esse controle se reflete no motivo pelo qual o ser se movimenta? Não! Pois quando todo esse entendimento toca a mente daquele que começou a treinar, ele está numa nova fase, ele já não se move apenas. Ele questiona o porquê mover-se! Ele questiona se seu corpo suporta mover-se como sua mente realmente pretende! Ele está na segunda fase, o parkour bruto. Essa é a grande peneira do parkour, a peneira da seleção natural. Agora só os mais fortes vão ficar. Só os que evoluírem vão ficar. Só os que tiverem um traço de fibra moral vão ficar! Nessa fase, treinar é força e ser forte passa a ser a meta. Não há como impedir um certo desgaste físico, pois a repetição é óbvia, e o que gera mais desgaste que a repetição? Impedir é uma missão impossível!
Ou não!
Há um pensamento de alguns traceurs, que em certos momentos é desprezado:
“Treinar parkour para ficar forte para o parkour.”
Já outros seguei a linha da divisão do treino em dois. O Físico e o Parkour.
Ok! Não vem ao caso agora. O que vem ao caso é que, agora as discurções não são mais se fala-se o “Le” antes do “Parkour”, se mortal é parkour, ou a utilidade do vault X e Y!
Agora o debate é coerente com a prática. O debate passa a ser realmente útil. O foco não é mais ser apenas forte e mais forte e depois forte ao quadrado. Agora podemos ser fortes e úteis. Essa é a utilidade! Algo que não se conquistou por meio de uma clarividência ou por um despertar após uma noite de sono. É algo que teve um preço e que foi pago!
A antigas civilizações viam o sangue como uma espécie de “moeda espiritual”, esse é o motivo para o comum uso do sacrifício em toda a antiguidade. Hoje penso que o parkour é algo tão intenso que foge de uma simples atividade. É realmente uma vivência de aprendizado na qual você tem que pagar um preço. A diferença é que no parkour o sangue é importante de forma diferente, pois devemos manter nossa integridade física. Agora a moeda será paga com sacrifício próprio, esforço, dor e suor.
Agora o Parkour começa a modificar todo seu entendimento e visão do mundo! Se houver algum ponto no qual a evolução está comprometida, isso se torna visível em sua mente. Agora seu corpo e mente estão encontrando um nível lógico. Agora eles irão se nivelar e se fundir. Não há mais outro caminho. O estágio do seu parkour agora é espiritual.
Rompendo a barreira de tempo e espaço, um treino pode ser feito em qualquer lugar, a qualquer hora, durar 10 minutos ou 24 horas. Quando houver a necessidade, o movimento simplesmente vai fluir e ser útil. Não é apenas aquela antiga memória muscular que você adquiriu nos treinos! É algo mais intenso, é um momento que eu, na minha pura insanidade costumo chamar de “Incorporação”. Nada do além ou de outro mundo. Esse processo que começou ainda na fase do parkour bruto, é exatamente quando a verdade interna se firma, como se o indivíduo incorporasse um guerreiro. Será disposto a tudo e capaz de tudo, mas que sabe o quanto é pequeno diante da grandeza do mundo e seus empecilhos. Aquele velho aprendizado: “Respeite o obstáculo!”
O único problema é que chegar nessa fase não é encerrar o ciclo. Trilhar até a evolução é uma caminhada em uma montanha coberta por um nevoeiro. Se não nos mantermos alerta será complicado manter a evolução e cairemos.. Minha grande batalha agora é entrar definitivamente nessa terceira fase. Encontrar esse “nivelamento” e despertar esse guerreiro interno que ainda é cambaleante de sono. Após esse envolvimento, não sei se há outra fase. Creio que haja. Mas não posso enxergar muito alem de onde estou. Não posso ver muito alem do denso nevoeiro. Só posso seguir em frente!
A noite sem dormir. Minha visão de evolução no Parkour em 3 fases